Brazil

Conexão Saúde

Adalton Fonseca, Gustavo Matta, Denise Pimenta, Mariana Sebastião, Raiza Tourinho

Em 2020, a organização não governamental brasileira Redes da Maré, com sede em uma das maiores favelas (favelas) do Rio de Janeiro, se reuniu com uma equipe de cientistas da Fiocruz e a comunidade da Favela da Maré para formar um novo coletivo para responder à crise emergente da COVID-19. A equipe diversificada, que ficou conhecida como Conexão Saúde, desenvolveu ferramentas ágeis e acessíveis para controlar o aumento da pandemia em um território de mais de 160.000 pessoas.

Para dar início ao projeto, eles reuniram organizações públicas e privadas, mobilizando recursos financeiros e humanos em tempo recorde. O projeto combinou isolamento domiciliar, testes gratuitos de COVID-19, telemedicina e uma forte estratégia de comunicação interpessoal e baseada na web para disseminar informações e evitar notícias falsas. Por meio de uma abordagem de pesquisa e intervenção profundamente baseada na comunidade, o projeto ajudar a reduzir o número de mortos por COVID em mais de 40% de março de 2020 a abril de 2021 e conseguiu atingir 94,4% das taxas de vacinação contra COVID.

O coletivo também criou Vacina Maré, um projeto de pesquisa que teve como objetivo estimar a eficácia da vacina contra a COVID-19 e o impacto da pandemia no território da Maré ao longo do tempo. A equipe agora está se baseando nas infraestruturas, formas de trabalho e colaborações desenvolvidas por meio desses projetos focados na COVID para lidar com outras questões sociais e de saúde urgentes na Maré e em outros territórios.

Abordagem para transferir o poder para as comunidades e promover o intercâmbio equitativo de conhecimento

O projeto Conexão Saúde foi concebido por meio de um esforço conjunto entre organizações comunitárias e instituições científicas. O sucesso de seu programa de resposta à pandemia foi possível graças aos engajamentos contínuos dos membros da equipe colaborativa na favela da Maré, que ajudaram a promover uma profunda confiança entre a equipe do projeto e as diversas comunidades que vivem no território. Como explicou um membro da equipe do projeto Fiocruz:

“Um dos insights desse projeto foi a união entre diferentes grupos: o movimento organizado de favelas, uma equipe de dados e cientistas epidemiologistas. Isso criou robustez no processo, em relação a como abordar o problema, ouvir e se comunicar com a comunidade de várias maneiras, com informações qualificadas.”

Os próprios sistemas de rede da comunidade também foram fundamentais para organizar uma resposta rápida ao surgimento da COVID-19. A aplicação do conceito de “potência simétrica” foi fundamental para o sucesso do projeto, com cientistas da Fiocruz, Favela da Maré e doadores privados comprometidos em trabalhar lado a lado, como parceiros iguais, para controlar a pandemia.

Sucessos, desafios e lições aprendidas por meio do engajamento de comunidades

O primeiro grande sucesso direto do projeto foi a redução de 40% nas mortes por COVID-19 de março de 2020 a abril de 2021, alcançada antes da chegada da vacina Covid-19 e da cobertura populacional. Além disso, o projeto teve sucesso na construção de uma rede colaborativa para troca de conhecimento dentro da Favela da Maré, mobilizando a população por meio das práticas situadas, do conhecimento e dos diferentes atores e dialogando de forma produtiva com os poderosos movimentos sociais que surgiram na mesma área geossocial-política. Outro aspecto bem-sucedido da iniciativa foram os esforços de comunicação e engajamento da comunidade do projeto por meio da produção de conteúdo informativo e envolvente nas mídias sociais, boletins e comunicados à imprensa que ajudaram a combater a desinformação e as notícias falsas.

O maior desafio que a equipe do projeto enfrentou foi a configuração de toda a infraestrutura — desde locais de teste, assistência médica e telemedicina até o apoio à proteção social, especialmente entre os mais vulneráveis. A coordenação entre um grupo diversificado de partes interessadas em um prazo tão curto para responder à emergência de saúde sem precedentes foi um grande desafio, mas também um sucesso do projeto. O Comitê de Gestão colaborativo foi essencial para construir um processo de tomada de decisão horizontal, democrático e dialógico. Foi baseado nas reuniões semanais, contando com representantes institucionais e sociais para participar abertamente e compartilhar suas experiências, necessidades, estratégias de comunicação e orçamento recebido de várias fontes de forma transparente. Por meio dessa estrutura de governança, as decisões financeiras do projeto também foram baseadas em um processo participativo, garantindo copropriedade e colaboração genuínas.

Caminhos para a mudança

O aspecto mais interessante deste projeto é o desenvolvimento do modelo “Collab”, uma nova estrutura para pesquisas de saúde engajadas e colaborativas que surgiram das experiências incorporadas ao projeto. Para obter apoio orçamentário do estado e da sociedade civil, a equipe desenvolveu o modelo com base em três pilares: o pilar público, o pilar privado e o pilar da sociedade. O modelo já foi replicado em outras áreas, incluindo a Favela de Manguinhos, demonstrando a importância da colaboração em diferentes esferas sociais.

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